O jornalista Carlos Pereira do Diário Económico quis saber a minha opinião sobre um conjunto de questões sobre o Capital de Risco no nosso País e a nível internacional, no âmbito de um Suplemento sobre soluções financeiras que foi publicado hoje no citado Diário, e que não podia deixar de partilhar com todos aqueles que se interessam por estas importantes matérias.
"Soluções Financeiras para PME" - ficheiro .pdf (0,59MB)
A propósito do recente IPO do LinkedIn fui contactado pela jornalista Sara Mota do Diário Económico a quem dei a minha opinião sobre as questões que a mesma me colocou e que não poderia deixar de partilhar convosco mais que não seja para que também possam emitir a vossa opinião sobre este recente movimento de saída em Bolsa dos projectos relacionados com as Redes Sociais.
- O IPO do Linkedin foi um sucesso. Estamos perante uma nova bolha das dot.com?
Neste momento as acções do LinkedIn valem já o dobro do valor a que foram colocadas no mercado ($88,3, comparativamente com os $45 conseguido no IPO).
Podemos de facto colocar essa hipótese não exclusivamente devido a este IPO mas sobretudo porque muitas empresas da internet e em particular das redes sociais estarem a ser alvo de consecutivos investimentos por parte de investidores de risco. No caso do LinkedIn o modelo de receitas da empresa é bastante razoável. Basta conhecer um pouco a ferramenta para perceber que existem várias fontes de receita, desde a publicidade, às contas premium, passando pelos serviços a empresas no domínio do recrutamento. Mesmo assim, não deixam de ser valores assentes em muitas expectativas futuras, uma vez que a actual valorização da empresa em $8 mil milhões corresponde a 33 vezes as receitas obtidas em 2010 ($243 milhões).
É importante ter em conta que a realidade em 2011 é bem diferente da de 2000 e que o mercado da internet - entenda-se consumidores – está muito mais consolidado, não só ao nível das infra-estruturas com velocidades de acesso muito mais rápidas e maior penetração da internet, como à tendência para mais compras de produtos e serviços online, área em que as redes sociais ainda têm muito espaço para crescer.
- Existem empresas portuguesas que possam ser alvo de operações financeiras como o Linkedin?
Infelizmente o nosso País está em vias de perder, mais uma vez, a oportunidade de beneficiar da dinâmica que se começa agora a assistir a nível internacional – o exemplo do Linkedin é apenas um dos mais visíveis pois tem existido outras transacções fora de bolsa muito interessantes - com a obtenção de mais valias por parte dos investidores que há uns quatro anos atrás decidiram apostar em produtos ou modelos de negócios então considerados “frios”…
De facto nesse período a Indústria Nacional de Capital de Risco apenas investiu num projecto em fase de arranque o que naturalmente acabou por condicionar a possibilidade de também termos em Portugal um conjunto de start-ups que pudessem ter identificado uma oportunidade tipo Linkedin. Naturalmente que por um lado as SCR nacionais também se podem orgulhar de não terem tido insucessos mas por outro ficamos sempre com uma dúvida do que poderia ter acontecido se tivesse existido uma dinâmica de investimento em start-ups mais agressiva ou minimamente sustentada?
Para que se possa compreender a razão de ser desta minha observação é bom recordar que em 2003 o Twitter era português e tinha o nome de Jarbas ou seja muito antes dos Fundadores do Twitter sequer sonharem em ter uma das redes sociais mais populares do mundo e também ela em vias de se tornar um caso de sucesso dos mercados bolsistas americanos.
Assim posso afirmar que o mercado português está ainda a meio do seu percurso para poder gerar casos de sucesso na internet.
Acredito no entanto que o aparecimento, já em 2011, de um conjunto de novos fundos de early stage , criados pelo sector privado em partilha de risco com fundos públicos e geridos pelas SCR portuguesas ,acrescido de uma vaga significativa de novos investimentos que está a surgir com o apoio de business angels – também estes a beneficiarem do fundo de Co-Investimento do Programa COMPETE e em perfeita sintonia com o IAPMEI- , poderemos ver, também no nosso País e em poucos anos, alguns pequenos grandes sucessos a emergir.
Tenho dúvidas que o IPO seja o caminho natural, até porque no mercado da internet a escala é um aspecto muito importante e qualquer sucesso terá de se afirmar internacionalmente, tendo como consequência mais provável a aquisição por grupos internacionais - o que não impede que seja considerado um grande sucesso!
E como precisamos desse sucesso. Sabemos que cada caso é um caso mas assistirmos no nosso país a empresas financiadas por business angels e capital de risco nacional conseguirem atingir esse patamar será mais do que um sucesso. Será, a meu ver, o rastilho que precisamos para dar maior confiança aos investidores, para mais empreendedores avançaram com as suas ideias inovadoras e para mais universidades e mesmo municípios apostarem no incentivo ao empreendedorismo, como exemplo a seguir para o resto da sociedade.
Na passada sexta feira a Jornalista do Diário Económico, Raquel Carvalho, colocou-me uma série de perguntas sobre a Indústria de Capital de Risco no nosso País, cujas respostas passo a partilhar com os meus amigos pois acredito que as mesmas possuem informação de interesse nomeadamente para os empreendedores que procuram financiamento para os seus projectos ou para os estudantes que tem de realizar trabalhos sobre esta temática.
1. Como caracteriza o Capital de risco em Portugal? Qual o balanço que faz dos últimos anos? Acha que Portugal está aberto a este mercado?
É necessário, antes de mais, distinguir os dois mercados distintos que caracterizam o capital de risco em Portugal. De um lado temos o capital de risco mais “tradicional” que investe sobretudo em negócios mais maduros, com maior ou menor risco mas que é essencial para financiar fases de internacionalização, reestruturação ou de buyout, por exemplo. Do outro lado temos aquele que pode ser considerado como o capital de risco early stage ou venture, onde o risco assume um maior peso dado o facto de financiar negócios em fases muito emergentes e cujo resultado pode ser um fracasso que corresponde à perda total do investimento como um sucesso capaz de pagar todo o portfolio do investidor.
O capital de risco em Portugal sempre foi caracterizado por ter aversão ao risco, em parte pelo facto de muitas das grandes sociedades de capital de risco terem origem na banca, o que conduziu a que historicamente fossem canalizados mais fundos para negócios e sectores mais previsíveis.
A comprovar esta minha posição vide por exemplo o quadro evolutivo dos investimentos realizados no nosso País e particularmente nos últimos quatro anos onde praticamente não se assistiu a qualquer investimento ao nível do capital semente e onde os capitais se concentraram praticamente nas operações de buy-out e de reestruturação de empresas.
Felizmente acredito que iremos assistir a uma mudança que irá ter um maior enfoque nos sectores iniciais de financiamento, admitindo por isso que seremos capazes de eliminar a actual falha de mercado. De facto em sintonia com o resto da Europa, surgiram este ano no nosso País novos fundos de early stage no valor de 87 milhões de euros, os quais terão de ser aplicados obrigatoriamente em novos negócios até ao final de 2013.
Por sua vez a Comunidade Portuguesa de Business Angels deu um passo histórico ao aderir em grande número ao novo fundo de Co-investimento promovido no âmbito do Programa Compete, que foi criado especificamente para as fases mais iniciais de investimento e que conta com uma capacidade de investimento de 42 milhões de euros, alavancada por mais de 200 business angels através de 54 entidades veículo.
Refira-se a propósito que tendo ficado operacional em finais do passado mês de Fevereiro a formalização dos contratos de financiamento estabelecidos entre cada uma das 54 entidades veículo e a PME Investimentos- Sociedade Gestora do citado Fundo de Co-Investimento- estas entidades já efectuaram 11 investimentos em novas empresas num total de 2.7 milhões de euros criando assim fortes expectativas de que os próximos meses serão caracterizados por um forte número de investimentos por parte da Comunidade de Business Angels nacionais.
2. A legislação nacional facilita o acesso ao capital de risco?
Portugal possui desde 2003, altura em que o ex-Ministro da Economia Carlos Tavares reformulou totalmente o então completamente desajustado enquadramento jurídico e fiscal, ao nível legal uma situação que não apresenta significativos obstáculos à actividade de capital de risco nem para o sector formal dos fundos, nem para o mais informal dos business angels cuja actividade foi reconhecida em 2007 pelo DL 375/2007.
Já no que respeita à fiscalidade nacional deu-se recentemente um significativo retrocesso. As condições que foram em 2010 concedidas aos Business Angels portugueses em matéria de benefícios fiscais que permitiam deduzir à Colecta de IRS 20% do valor dos seus investimentos, em projectos inovadores, até ao limite de 15% da citada Colecta, foi limitada este ano para... 100€, um valor “ridículo” mas que tenho esperanças que seja ainda revisto ao longo do ano. Os Business Angels precisam deste tipo de estímulos. No Reino Unido, país com o maior número de Business Angels na Europa, as condições fiscais foram há poucos dias revistas no sentido inverso com a dedução em sede fiscal até agora de 20% do valor do investimento aumentando para 30% e com o respectivo limite a ser duplicado para 1,14 milhões de euros (£1 milhão).
Não se deve pensar que é “mais um esquema” e que os Business Angels não querem pagar impostos. Deve-se pelo contrário reconhecer que são indivíduos que podiam ter o dinheiro a render em investimentos mais seguros mas que preferem canalizá-lo para projectos inovadores com grande potencial de crescimento que está provado serem o tipo de empresas que geram mais emprego, sobretudo qualificado. A aplicação de benefícios fiscais é exclusivamente uma forma de compensar o risco e nunca o substitui.
3. Como compara 2010 com 2009 em termos de números de transacções e investimento realizado? Quais as perspectivas para 2011?
O mercado português de capital de risco está a atravessar um período conturbado e não indiferente à crise económica e de confiança que se instalou na economia portuguesa. De 2009 para 2010 o valor investido caiu 46% - passando de 303 milhões de euros em 2009 para 164 milhões de euros em 2010- tendo semelhante panorama sido verificado nos desinvestimentos realizados e com uma bastante mais acentuada queda nos novos fundos angariados (89%).
Contrariamente ao valor dos investimentos realizados ao nível europeu onde de acordo com a EVCA, Associação Europeia de Private Equity e Venture Capital, cresceram mais de 42%, e nos EUA onde cresceram mais de 19% o nosso País revelou efectivamente uma performance muito negativa e completamente inesperada tendo em conta o forte contributo que se esperava das Sociedades de Capital de Risco na dinamização da Economia Nacional.
De facto comparando com a nossa vizinha Espanha onde a conjuntura económica e financeira também foi bastante negativa, as Sociedades de Capital de Risco investiram comparativamente a 2009 mais de 117% tendo passado de 1.592 milhões para 3.500 milhões euros o que diz bem da dinâmica que as mais de 191 empresas existentes em Espanha revelaram. Acresce por outro lado que os projectos nas fases iniciais em Espanha, e mais uma vez contrariamente ao nosso País, revelaram igualmente um forte dinamismo pois foram investidos 130 milhões de euros em mais de 300 empresas.
Como já referi anteriormente acredito que durante o ano de 2011, poderemos assistir a um aumento significativo dos investimentos early stage uma vez que as Sociedades de Capital de Risco que assinaram os contratos de financiamento com a Sociedade Gestora dos Fundos provenientes do Programa COMPETE se encontram devidamente capitalizadas para aportarem os seus Fundos aos Empreendedores, que apresentem excelentes Projectos empresariais bem como a Comunidade de Business Angels dispersa por todo o País não deixará de continuar a revelar a interessante dinâmica de investimento registada nos primeiros três meses de execução do seu Fundo de Co-Investimento.
4. Este mercado tem espaço para crescer? De que forma?
Julgo que pode crescer muito. O mercado de early stage está a surgir e tem ainda um longo caminho para se integrar devidamente no ecossistema empreendedor, nomeadamente através da criação de fundos especializados, de uma maior integração com universidades e incubadoras, do aparecimento de business angels particularmente activos e de uma nova geração de business angels que foram anteriormente empreendedores de sucesso financiados com capital de risco.
Já quanto ao sector mais tradicional a recuperação e crescimento virá certamente com a restauração da confiança dos gestores dos fundos na economia e nos mercados financeiros por parte dos agentes externos.
5. É o capital de risco uma melhor forma de financiamento para as empresas em tempos de crise? Porquê?
As empresas recorrem habitualmente à banca quando necessitam de se financiarem para crescer. Estando os spreads mais altos e os critérios de selecção dos projectos mais restritivos, a única solução é bater a outra porta. A porta do capital de risco não se abrirá sempre porque quem investe é também criterioso mas aplica critérios mais compatíveis com o risco que está associado ao crescimento da empresa. Não posso por isso dizer se é melhor ou pior mas digo com segurança que é uma melhor alternativa para algumas empresas.
6. O que poderá mudar neste mercado com a crise?
Preocupa-me mais o que pode mudar “após” a crise. A crise trouxe um maior interesse pelo early stage, pelos projectos que podem gerar maior retorno com menos capital e houve de certa forma uma transição de capitais para este tipo de fundos. Com uma economia em recuperação, espero que não se verifique o inverso e que não fiquem apenas os business angels – cuja capacidade financeira é mais limitada – a investir no sector.
7. Qual a Importância do Capital de Risco para a Economia Portuguesa?
Um dos grandes problemas da Economia Portuguesa é o desemprego e a produtividade.
Ora recentemente, em Espanha, foi publicado um estudo que analisou a evolução alcançada pelas empresas que obtiveram capital de risco no ano de 2005, em termos de volume de negócios e criação de novos postos de trabalho, no período compreendido entre o citado exercício e o ano de 2008, ou seja três anos depois.
Os resultados alcançados são significativos da importância do Capital de Risco na economia de um País. De facto o volume de negócios das citadas empresas tiveram um crescimento médio anual de 10.2% quando as que não tiveram capital de risco registaram uma quebra média anual de 4% . Por sua vez ao nível da criação de emprego verificou-se que por cada empresa alvo de capital de risco se criaram mais 10 postos de trabalho em 3 anos contra apenas 1.5 nas empresas que não obtiveram capital de risco.
De facto o Capital de Risco não será certamente a “fórmula mágica” que vai tirar Portugal da forte crise económica em que se encontra, porém os especialistas coincidem na opinião de que deve formar parte das medidas a adoptar em momentos de recessão para fortalecer as empresas, melhorar a sua competitividade e ajudar na criação acelerada de emprego.
Evolução das Estatísticas e Fundos do Programa Compete.
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